(Esse texto é uma ficção. Inspirado em fatos e personagens reais)
OtalJair não tinha limites. Fazia o que queria. Poderia ter sido um cara normal. Mais um na multidão. Levar uma vida boa, honesta, digna, respeitosa… Mas de tanto nada ter, ele queria tudo. E resolveu que um dia seria presidente da República Pátria Amada.
Quando pequeno, no interior da República Pátria Amada, OtalJair vivera uma infância simples. Cinco irmãos, casa modesta, pobre mesmo. Vivia livre nas cercanias da pequena cidade onde corria pelo mato, pela praça, pelos corredores da igreja, pelos submundos da cidadezinha. Ele fazia o que queria.
Na escola OtalJair se destacara como líder – dizem os mais próximos. Era o chefe da turma da bagunça (dos valentões, mas não dos artistas!) na sua classe, mas era o que sentava na frente… disfarçado de bom aluno, de bom moço. E desrespeitava colegas, professores, maltratava plantas e pequenos animais. Ele fazia o que queria.
Na adolescência OtalJair era temido pelos ditos diferentes. Negros, indígenas, deficientes físicos, efeminados, gordos, magros, meninas em geral. Infernizava quem não o seguisse ou não o admirasse. Quem ousasse ser diferente. Quem cruzasse seu caminho, era encrenca na certa. Violência na certa. Ele fazia o que queria.
E assim cresceu o pobre coitado. Ficou rico até… Mas um pobre coitado.
Adulto, OtalJair se sentia poderoso. Impávido. Não levava desaforo para casa. Sempre foi de revidar (ataques ou não) na hora. Na cara. E ninguém poderia segurá-lo. Aprendera desde cedo que macho que é macho, não leva desaforo para casa. Fosse quem fosse, de qualquer gênero ou patente. OtalJair se vangloriava de sua coragem. Homem do exército, sabia atirar e sabia resolver as coisas na bala. Ele fazia o que queria.
Poderia ter sido um cara normal. Mais um na multidão. Levar a vida numa boa, honesta, digna, respeitosa… Mas de tanto nada ter, ele queria tudo. E resolveu que um dia seria presidente da República Pátria Amada. E deu no que deu. Desrespeitou, maltratou, infernizou, perseguiu, ridicularizou, ameaçou, provocou, humilhou, debochou. Afinal, OtalJair não tem limites. Ele faz o que quer.
Como eu conversava com o Carlos dia desses por telefone, talvez (será?), todos nós, brasileiros, tenhamos um pouco da personalidade de nosso fictício personagem OtalJair… Ou alguém na família… Ou um amigo, um vizinho, um amigo do vizinho. Alguém que não teve amor. E que não sabe amar.
Pois amor, limite e respeito é o que nos ensina a ser tolerantes, sábios, respeitosos… Pessoas normais. Mais um na multidão. Levar uma vida boa, honesta, digna, respeitosa. E assim, temos tudo. Que tal?
Otaljair had no limits
(This text is a fiction. Inspired by facts and real characters)
Otaljair had no limits. He did what he wanted. He could have been a normal guy. One more in the crowd. Lead a good, honest, dignified, respectful life … But because he had nothing, he wanted everything. And he decided that one day he would be president of the República Pátria Amada.
As a child, in the interior of the República Pátria Amada, Otaljair had lived a simple childhood. Five brothers, modest house, really poor. He lived free on the outskirts of the small town where he ran through the bush, the square, the church corridors, the underworld of the small town. He did what he wanted.
At school, Otaljair he had distinguished himself as a leader – say those closest to him. He was the head of the mess class (of the bullies, not the artists!) of his group, but he was the one who sat in the front … disguised as a good student, a good boy. And he disrespected colleagues, teachers, mistreated plants and small animals. He did what he wanted.
In his teens Otaljair was feared by different people. Black, indigenous, physically handicapped, effeminate, fat, thin, girls in general. He made people who did not follow or admire him hellish. Anyone who dared to be different. Whoever crossed his path was in trouble for sure. Violence for sure. He did what he wanted.
And so the poor guy grew up. He got rich even… But a poor guy.
As an adult, Otaljair felt powerful. Undaunted. He didn’t take outrage home. It was always to strike back (attacks or not) on the spot. In the face. And nobody could handle it. He had learned from an early age that a male who is a male does not take outrage home. Whoever it was, of any gender or rank. Otaljair boasted of his courage. A man from the army, he knew how to shoot and knew how to solve things with the bullet. He did what he wanted.
He could have been a normal guy. One more in the crowd. To live life in a good, honest, dignified, respectful way … But because of having so much nothing, he wanted everything. And he decided that one day he would be president of the República Pátria Amada. And it happened. He disrespected, mistreated, made hell, chased, ridiculed, threatened, provoked, humiliated, mocked. After all, Otaljair has no limits. He does what he wants.
As I was talking to Carlos the other day on the phone, maybe (really?), all of us Brazilians, have a little bit of the personality of our fictional character Otaljair… Or someone in the family … Or a friend, a neighbor, a neighbor’s friend. Someone who has not had love. And who doesn’t know how to love.
Because love, limit and respect is what teaches us to be tolerant, wise, respectful … Normal people. One more in the crowd. Lead a good, honest, dignified, respectful life. And so, we have everything. What do you think?